A doença celíaca é uma doença autoimune, que ocorre em pessoas geneticamente predispostas, desencadeadas por uma proteína chamada glúten, presente no trigo, centeio e cevada.
A doença celíaca acomete o intestino e outros órgãos, e é considerada uma doença sistêmica. Além de trazer sintomas digestivos, como diarreia, constipação, aumento de gases, dor abdominal, sintomas gástricos, carências nutricionais e diminuição no desenvolvimento físico, há várias questões fora do intestino. A doença celíaca está relacionada a outras doenças autoimunes em vários órgãos. São exemplos, a tireoidite, diabetes mellitus tipo 1 e hepatites autoimunes.
Na pele, há relação com psoríase, rosácea, vitiligo, aftas, alopécia areata. Pode haver aumento de dores musculares e articulares, com aumento de incidência de osteopenia e osteoporose. Quadros de infertilidade, abortamentos de repetição, menopausa precoce são comuns. Além disso, é importante ressaltar que 70% dos pacientes apresentam sintomas neurológicos, como dor de cabeça, fadiga crônica, falta de concentração e memória, confusão mental, insônia, irritabilidade, dormência nas mãos e pés.
A doença celíaca é diagnosticada por meio da dosagem de autoanticorpos (anti-gliadinas IgG e IgA, antiendomísio IgA e anti-transglutaminase tecidual IgA) e confirmada pela avaliação da mucosa do duodeno (intestino delgado). A doença celíaca causa inflamação e atrofia da mucosa do intestino, e estes achados confirmam o diagnóstico.
Todas estas alterações são conhecidas como “Desordens relacionadas ao glúten”.
O maior desafio, sem dúvida, é que o glúten está presente em muitas comidas, de forma direta (pães, massas, bolos, bolachas, pizzas, salgados) ou de forma indireta (presença de traços do glúten por contaminação cruzada). Devido à presença quase onipresente do glúten em vários alimentos, vários aspectos da vida pessoal e social do paciente são afetados. Infelizmente, há aumento de incidência de isolamento social, transtornos de ansiedade, hipervigilância, depressão e obsessão, em razão disso.
Para evitar a contaminação cruzada ao comer fora, por exemplo, o ideal é que o paciente conheça o local e saiba se o estabelecimento em questão entende dos processos de segurança alimentar. O mais importante é que o paciente e seus familiares saibam gerenciar o risco. É indispensável conversar com os responsáveis pelo preparo e reforçar os riscos que a ingestão de glúten, mesmo em mínimas quantidades, pode trazer.
Em casa, é preciso muita organização e respeito a espaços, utensílios de cozinha e no preparo de alimentos, principalmente, quando esta é compartilhada com familiares que comem glúten.
Existem várias linhas de pesquisa sobre a doença celíaca. Quanto mais entendermos os mecanismos da doença, mais poderemos ajudar como médicos. Também estamos atentos a diagnósticos mais difíceis, com apresentações clínicas menos comuns. No entanto, nada é mais aguardado do que o desenvolvimento de medicamentos. Atualmente, há vários medicamentos em estudo, em fases intermediárias e com bons resultados. Sabemos que 80% dos pacientes com doença celíaca desejam um medicamento. Com certeza, haveria um incremento na qualidade de vida!
Generosidade e paciência. É preciso ensinar a todos que cercam o paciente sobre aspectos alimentares e riscos da doença. Muitas vezes, há preconceito, mas precisamos vencer esta barreira. A melhor forma de caminharmos para frente é ensinando, orientando e reforçando conceitos. Por isso, um espaço e uma publicação como esta são tão relevantes para esta comunidade! Quanto mais informações forem difundidas, maior será a inclusão destas pessoas tão especiais.
*Por Dr. Fernando Valério – CRM SP 87001 l RQE 52104